Vandinha Klabin

Novembro, 2023

Pulsações Cromáticas

 

O foco gravitacional do seu processo de trabalho é o território próprio da pintura e suas múltiplas manifestações. Elabora amplas superfícies de cor, explora as intensidades cromáticas e variadas formas geométricas através de linhas articuladas em planos verticais e horizontais, que acentuam as relações métricas proporcionais com ousado grau de liberdade.

 

A presença do jogo relacional dos constantes blocos de cores intensificam o adensamento das sensações luminosas e, ao mesmo tempo, consolidam uma interlocução ativa da dinâmica pictórica. Por vezes saturados, quase monocromáticos, apontam diálogos convergentes ou dissonantes, mas sempre construindo novos direcionamentos, outros repertórios no tratamento das superfícies pictóricas. A percepção da cor não se altera, mas tende a se contrair ou expandir até encontrar seu equilíbrio na superfície da tela. As imperceptíveis pinceladas monocromáticas geram uma intensa vitalidade, acentuam e impulsionam as cores vizinhas num interminável “crescendo” até alcançar o seu valor máximo.

 

As obras recentes ganharam autonomia e configuram uma reflexão contínua, um mundo próprio. A tela esticada sobre o seu suporte, concentra a ação da utilização de recursos aparentemente tradicionais – telas, tintas e pincéis. Sua gestualidade está diluída nas pinceladas, mas deixa a marca de sua presença, atenuada nos procedimentos que adota para finalizar o seu processo de trabalho e, por vezes, apresenta traços reconhecíveis pela aplicação da cor em grandes áreas, onde a artista não demonstra receio pelas cores fortes. Podemos observar como a substância cromática ganha espessura no trabalho no seu processo criativo: experimentar é manter viva a capacidade de ser atual e surpreendente, graças a uma espacialidade aberta e uma liberdade oriundas das suas intensidades cromáticas.

 

As suas obras possuem uma certa grade de coordenadas semelhantes e apontam para o roteiro de uma história completamente abstrata, sem narratividades. Dotadas de uma precisão e retilineidade absoluta, pavimentam um percurso que nos conduz à famosa afirmativa de Piet Mondrian, de que 

“As curvas são demasiadamente emocionais” e essa premissa foi determinante para o estabelecimento do seu universo plástico.

A trajetória poética de Renata Cazzani traz ressonâncias das vertentes construtivas e do pensamento cromático, sempre atuantes, de Josef Albers, Mark Rothko, Barnett Newman, Agnes Martin entre outros, repletos de significados visuais e colocados no centro de novas leituras.

 

Nessa exposição, as recentes criações cromáticas e infinidades de combinações de Renata Cazzani, mobilizam novas formas de perceber as pautas atuais e respiram um desejo intenso da prática pictórica. Com os seus contrapontos e harmonias, materializam um espaço poético, um dispositivo plástico pulsional constante para o entendimento da dinâmica do mundo e da linguagem visual contemporânea.

 

 

Vanda Klabin
historiadora e curadora de arte. Nasceu, vive e trabalha no Rio de Janeiro.